Eu, Luciana, agente comunitária de saúde da Clínica da Família Rodrigo Roig, realizei em outubro de 2010, um visita domiciliar (VD) que fez a diferença em minha vida. A seguir conto um pouco sobre essa estória.
Foi durante a VD de dona Esperança, ex- moradora da subida da Central no Morro do Alemão, atualmente moradora em minha área desde a sua retirada pelas obras do PAC que tudo começou...
No primeiro dia quando cheguei para cadastrar a usuária, perguntei a ela quantas pessoas moravam na casa e ela me respondeu: “Eu e meu filho especial”! Pedi os documentos e ela me trouxe seu RG e disse que seu filho Paulo só tinha certidão de nascimento. Decidi colher um pouco mais de informações sobre esse filho, e perguntei qual era o problema dele e se ele fazia algum tipo de tratamento.
A senhora Esperança, muito emocionada, me contou que o filho não saía de casa desde os 13 anos de idade, sendo que ele tinha 44. Disse-me que aos 13 anos, Paulo que estava brincando de bola de gude, foi repreendido por um grupo de policiais, que o levaram para um “canto”. Quando sua mãe o encontrou, muito assustado e com o coração muito acelerado, ela considerou que foi um momento que o deixou muito traumatizado. Desde aquele dia, Paulo nunca mais quis sair de casa, trancado em seu quarto, não recebia visitas nem de seus familiares.
Ela me pediu ajuda, pois todo esse tempo não encontrou apoio em ninguém. Perguntei se Paulo também tinha o desejo de ser ajudado e ela me respondeu que ele queria muito perder o medo, queria ser livre, mas não conseguia.
Foi um relato que mexeu muito comigo e que me deixou por dias refletindo. Eu nunca o via em minhas VDs, porque ele só vivia trancado no quarto, tinha curiosidades em saber como ele era, porém ele nunca me atendia quando a sua mãe não estava em casa.
Decidi levar o caso para reunião de equipe, quando então, marcamos uma VD com o psicólogo/residente. Na VD, Paulo nos revelou através de uma carta que seu sonho era ir à rua. Após consecutivas VDs, ele finalmente aparece na clínica com sua mãe. Que Alegria! Enfim pude conhecê-lo e ver a emoção em seus olhos. Muito simpático e tímido, compareceu às suas várias consultas com o psicólogo.
Hoje, ele frequenta a escola, as consultas clínicas e odontológicas na clínica. Realizou exames nunca feitos antes, compareceu às festas familiares, foi à praia, é um internauta e deseja fazer curso de informática e trabalhar.
É o orgulho da mãe que agradece a Deus todos os dias, por eu ter acolhido e escutado a sua narrativa e ter-lhe oferecido ajuda em seu caso.
O resultado dessa estória é a minha maior gratificação! O resultado é esse: O trabalho dedicado do Agente Comunitário de Saúde!
* Todos os nomes citados foram trocados por questão de privacidade. Exceto a identificação da agente comunitária de saúde Luciana, narradora desse belo conto.
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